Não dá
para falar de escultura, sem começar por determinar uma informação fundamental
que é sua própria referência: mostrar
qualquer coisa, ou ainda coisa nenhuma. Segunda informação: o corpo humano é a
“matéria-prima” primeira que representa esteticamente a associação de valores
figurativos de determinado tempo e cabe no ilimitado repertório de mostrar
qualquer coisa. Quanto ao desejo de recriar um objeto moderno, que mostra coisa
nenhuma [inferência do sujeito
que o percebe, e não do artista!], tem muito a ver com a atmosfera da imagem, da
velocidade e da comunicação imediata, iniciada no século 20 com a fotografia, o
cinema e Picasso como exemplos. Desafia-se a percepção, organizando-se o real
em todas as suas possibilidades de linguagem. É mesmo um realismo da
irrealidade.
Detalhe da escultura
da linha Hexie
Conformação em placa
Massa cerâmica branca
com esmalte transparente
Viés
HISTÓRICO
É a correlação entre
realidade e imagem que funda a escultura da Pré-história ao século 18.
Informa-se na imagem da Vênus de Willendorf a
fertilidade da mulher com seus seios enormes e ventre abundante. Os egípcios
exploram a figura divina do Faraó para abrigar-lhe a alma e a crença na vida
depois da morte. Embora sem braços e pé
esquerdo, com acabamento pouco refinado na parte traseira, a Vênus de Milo justifica a função de
representar os deuses do Olimpo. Na
Idade Média, a história do Cristo autoriza a produção de Maria Madalena com tranças, testa alta e recipiente com óleo para
ungir o corpo do Senhor. O Barroco
põe diante dos olhos dramaticidade, efeitos de luz e
apelo visual; faz-nos conhecer a emoção e a técnica de Bernini. Na civilização
industrializada do século 19, o artista não considera diretamente a realidade, mas a
elabora dinamicamente através de
relações entre elementos tomados da consciência, da técnica e da matéria-prima.
Foi essa a escolha de Rodin. Nele há simplificação e distorção, marcas da
matéria-prima [pedra] e incompletude do objeto no objeto
que abrem para as manifestações do século 20. Modernamente “entram” no processo estético
reentrâncias, curvas e formas improváveis, e tecnologia de materiais, que
afirmam o modo de pensamento do artista e não permitem designar objetos por
tendências. É o que acontece com O Impossível de Maria Martins.
1 Vênus de Willendorf, em
calcário oolítico, descoberta no
sítio arqueológico do Paleolítico, na Áustria, de 24 000 a 22 000 a .C.
| 2 Detalhe de um dos quatro colossos do faraó Ramsés II, no complexo arqueológico Abu-Simbel, escavado na rocha, no Egito, no século 3 a .C | 3 Vênus de Milo da
Grécia Antiga, em mármore, do acervo do Museu do Louvre, em Paris, França.
Autoria provável de Alexandros de Antioquia | 4 Maria Madalena, em carvalho,
do acervo do Musée de Cluny, o museu
da Idade Média nas termas de Paris. | 5 Detalhe
da escultura de Gianlorenzo Bernini A Beata Ludovica Albetoni, San Francesco a Ripa, Roma. | 6 O Beijo de Auguste Rodin, em mármore
branco em 1886, no Musée Rodin, em
Paris. Barro cozido é o modelo de referência. | 7 O Impossível III de
Maria Martins , em bronze, acervo do Museu de Arte Moderna de Nova York – MoMA.
Pegada
SUSTENTÁVEL
Com diferentes opções
de matérias-primas, cabe ao artista tirar proveito daquela que foi escolhida,
privilegiando projetos secos ao máximo, para levantar seus objetos. Mas
não é só. Atualmente, bom desempenho tem muito a ver com adaptar-se ao atributo
da tridimensionalidade que deixa
esculturas com características plásticas próprias, independentes de quaisquer
tendências e nos mais diversos segmentos
da atividade humana, como as em destaque abaixo.
1 Em estrutura de arame com argila, preenchida com resina, e
posterior modelagem em softwares 3D, action figures são produzidas para animação | 2
David Trubridge, designer neozeolandês, desenhou e produziu o pendente Coral, todo de lâminas de madeira reaproveitável | 3 Poltrona Joe, dos
designers De Pas, Donato D'Urbino e Paolo Lomazzi,
em poliestireno
expandido e
revestida de couro. | 4 Aço, cimento
reciclado e placas de vidro na Árvore da
Vida, no Pavilhão da Itália, para a Expo Milano 2015, sob o título
Alimentar o Planeta, Energia para a Vida, criação do estúdio Nemesi | 5 Expansion de Paige
Bradley, feita a partir de
fragmentos de cera, reproduzidos em bronze, com iluminação de dentro
para fora.
Objeto-Conceito
Dois elementos determinam a
escultura da linha Hexie. Sua estrutura retorcida permite intervenções de
posicionamento em contato com superfícies. As aberturas, devido ao formato de
hexágono, permitem o movimento dos olhos capazes de imaginar a entrada e a
saída da luz ou do vento e mesmo do fogo. Leve e minimalista, confere toque
contemporâneo nos mais variados ambientes.
Escultura linha Hexie
Conformação em placa
Massa cerâmica creme
com esmalte transparente
REGINA FRANCO Outubro 2015