Como
é previsível, a ideia de olhar um quadro (de tema bem sucedido ou não) se
encaixa sob praticamente qualquer representação visual através das cores: uma
pintura. No entanto, não devemos ignorar que podemos subverter os meios e os suportes
como experiência ou provocação. É assim que, em formato de quadro decorativo, a
linha Hexie aloca-se em uma
tela com massa cerâmica colada. Composição atual, ancorada na tradição rupestre.
Os primeiros homens pintaram na pedra. O suporte é a pedra. Queimada, a massa
cerâmica ganha rigidez de pedra e se credencia para meio no lugar das cores. Em
sentido mais específíco: a pintura do painel se limitou à aplicação de pedra.
Com o Hexie, mantemos o savoir-faire
antigo, sobretudo subvertido. É assim.
Detalhe do quadro da
linha Hexie
Conformação em placa
Massa cerâmica tabaco
Viés
HISTÓRICO
No
Paleolítico, paredes e tetos de cavernas são o suporte para representações do
cotidiano na Europa, na África e nas Américas. Com raspas de pedras coloridas e
sempre misturadas com resina de árvore e cera de abelha, os primeiros homens
coloriam animais selvagens e seus caçadores. Técnica que bastou para sua
preservação contra a ação do tempo. Nas antigas civilizações do Mediterrâneo
[Egito, Grécia e Roma], o panorama se mostra mais favorável à escultura. Já da
Idade Média ao Renascimento, a preferência se orientava para a realidade dos
afrescos [técnica
de pintura em paredes ou tetos de gesso ou revestidas com argamassa, ainda frescas,
que geralmente assumem a forma de mural] e dos retratos a óleo. Com Cézanne, foi possível
recriar realidades (naturais ou imaginadas) combinadas com as realidades
próprias da pintura: a cor, a luz e o desenho. Essa foi a abordagem até meados
do século 20, destacando-se a abstração total de Kandisky que manifesta as
relações estéticas do quadro, e aquela de
Jackson Pollock que encontra a realidade ao acaso, expressando o
instinto e as sensações do artista: simplesmente opostas. Já com o uso da
imagem digital, quadro [canvas, em
inglês] é o suporte em que se somam pintura, desenho, escultura e fotografia.
Tudo para que se crie com toques de hiperrealismo – e no século 21.
1 Registro rupestre na forma de pintura sobre rocha. Toca do
Boqueirão da Pedra Furada. Serra da Capivara, Piauí, Brasil. Foto: © 2009 Associação
Brasileira de Arte Rupestre | 2 À esquerda, detalhe
do afresco da ascensão de João Batista na Capela Peruzzi, na basílica de Santa Croce em Florença, Itália. © Giotto, 1318. À direita, Mona Lisa.
© Leonardo
da Vinci, 1516. Há controvérsias sobre o modelo pintado na técnica do sfumato : se a esposa de Francesco del Giocondo, um comerciante de Florença, ou Isabel de Aragão, a Duquesa de Milão, ou ainda o próprio Leonardo da Vinci.
Exposto no Museu do Louvre, em Paris, o quadro foi avaliado em cerca de 100 milhões de dólares na
década de 1960 | 3 Em paleta
de cores vivas, a expressão do jardim
da casa em Aix-em-Provence, visto da
janela do estúdio compõe o ambiente da pintura
abstrata e do cubismo. O Jardim em Les Lauves. © Paul Cézanne, 1906. Óleo sobre tela. The
Phillips Collection, Washington DC | 4 À
esquerda, cores e formas geométricas para provocar emoções e humores do
observador. Aquerela #14. © Wassily Kandisky, 1913. À direita,
gotejamento de tintas, inclusive as de resina sintética [esmaltes], com aderência da tela na parede ou no chão, em teias
de cor. Number One. © Jackson Pollock 1950
| 5 Verossimilhança, com ilusão de
profundidade, objetos para insinuar uma realidade alternativa: hiperrealismo. Ice Palace. ©Jason de Graaf 2011?
Pegada
SUSTENTÁVEL
A atenção a atitudes e
a importância que damos a intervenções que causem, no dia a dia, menos danos ao
meio ambiente favorecem a sustentabilidade. O reaproveitamento do material
excedente, após os recortes no desenho hexagonal, para composição do painel Hexie marca a preocupação do atelier
Regina Franco. Combiná-lo com o tratamento de superfície isento de esmaltes
configura uma escolha consciente e o torna compatível com projetos naked clay. Centrada numa possível
função social da sua atividade de ceramista, Regina Franco incluiu na sua
produção a caneca Eco-friendly com o
ícone de uma folha de embaúba na sua superfície. ”Sem me autopromover, tenho o
desejo de estimular uma vivência ecossuficiente”, revela. Confira as imagens.
1 Placas de argila,
resultantes de recortes no desenho hexagonal, fixadas em paginação contígua ao
motivo principal sobre o painel | 2 Caneca Eco-friendly, para gourmands do cafezinho, pensado o melhor custo-benefício
em substituição ao material descartável. Protótipo em massa cerâmica creme | 3 Folha de embaúba [ Cecropya polophlebia], árvore da Mata
Atlântica, destacando-se pela tonalidade prateada, favorita do bicho preguiça,
com propriedades terapêuticas e energéticas | 4 Regina Franco, levemente pensadora, em momento no showroom, anexo a sua antiga
residência, cercada de suas criações. Foto: © 2009 Bruno Nicoll
Objeto-Conceito
Se as paredes têm
ouvidos, talvez falem também... Ainda que improvável, podemos driblar a escolha
da pintura em tela, inovando e investindo no painel Hexie para um diálogo
de personalidade. Colocá-lo apoiado em aparadores, mesas ou no chão transforma
o ambiente de forma simples e moderna. Dê uma olhada!
1 Vista frontal dos exemplares do painel 40x80cm | 2 e 3 O
painel em alternativas de suporte e inspiração
REGINA FRANCO Novembro 2015