Objetos produzem um sentido. Esse sentido depende de como os olhamos. Ao olharmos, invariavelmente os relacionamos a emoções e ficamos, frente a frente, com a carga simbólica de quem os fez e os usa. E, se são nossos objetos, carregam narrativas repletas de memória e afeto.
Entender isso me permitiu perceber a importância de
falar de dois azulejos que – penso eu - acumulam as seguintes histórias de vida:
as de suas ideias & realização em Portugal e posterior composição sobre
tela no Rio de Janeiro... as do primo António Lobato Costa que os trouxe de
Braga¹ onde mora e reside... as de Margarida Lobato Costa que fez companhia ao
irmão quando de sua visita ao meu atelier...as
dos que os veem e olham; e ainda dos que os veem, mas não olham a sua intervenção
estética. A diferença entre ver e olhar é o ponto exato em que os transformo em
uma história única, cheia de lembranças de família.
Quando entro no atelier,
há dias em que os vejo como materiais de revestimento e faço memória da sua
produção e consumo em arquitetura. A diferença é que estão engenhosamente
contaminados por outros abstratos em formato 3D. E esta experiência não me
afeta os sentidos; apenas me coloca no contexto da cerâmica e da arte. Valem
pelo que são: azulejos.
Em outras manhãs ao olhá-los, se me
impõe um efeito que ativa o passado. Então encontro as imagens do meu pai e do
meu avô Juca José Luiz. É das
narrativas da infância de meu avô na quinta em Portugal e da presença e, ao
mesmo tempo, da ausência do palacete, que lhes atribuo um valor biográfico. Quando ultrapasso esta referência, e os
submeto a novas condições intersubjetivas, acomodo a visita dos dois filhos de
Maria Helena, sobrinha e afilhada de meu avô. Por fim, os azulejos tornam-se
animados pelo que lhes serve de suporte: a memória de Adelino Arantes como
protagonista que reúne a família que o oceano separa, mas que continuamente envolve
o diálogo entre o que nomeamos de passado e de presente. Ele era nosso bisavô!
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¹ Braga. Norte de Portugal no Vale do Cavado. Cidade dos Arcebispos, Roma Portuguesa, Cidade Barroca, Cidade Romana e Cidade dos Três Sacros-Montes são referências aos 2000 anos de História como cidade ligada a todo o Minho.