quinta-feira, 1 de agosto de 2024

Objetos e memória

Objetos produzem um sentido. Esse sentido depende de como os olhamos. Ao olharmos, invariavelmente os relacionamos a emoções e ficamos, frente a frente, com a carga simbólica de quem os fez e os usa. E, se são nossos objetos, carregam narrativas repletas de memória e afeto.

Entender isso me permitiu perceber a importância de falar de dois azulejos que – penso eu - acumulam as seguintes histórias de vida: as de suas ideias & realização em Portugal e posterior composição sobre tela no Rio de Janeiro... as do primo António Lobato Costa que os trouxe de Braga¹ onde mora e reside... as de Margarida Lobato Costa que fez companhia ao irmão quando de sua visita ao meu atelier...as dos que os veem e olham; e ainda dos que os veem, mas não olham a sua intervenção estética. A diferença entre ver e olhar é o ponto exato em que os transformo em uma história única, cheia de lembranças de família.


Quando entro no atelier, há dias em que os vejo como materiais de revestimento e faço memória da sua produção e consumo em arquitetura. A diferença é que estão engenhosamente contaminados por outros abstratos em formato 3D. E esta experiência não me afeta os sentidos; apenas me coloca no contexto da cerâmica e da arte. Valem pelo que são: azulejos.

Em outras manhãs ao olhá-los, se me impõe um efeito que ativa o passado. Então encontro as imagens do meu pai e do meu avô Juca José Luiz. É das narrativas da infância de meu avô na quinta em Portugal e da presença e, ao mesmo tempo, da ausência do palacete, que lhes atribuo um valor biográfico.  Quando ultrapasso esta referência, e os submeto a novas condições intersubjetivas, acomodo a visita dos dois filhos de Maria Helena, sobrinha e afilhada de meu avô. Por fim, os azulejos tornam-se animados pelo que lhes serve de suporte: a memória de Adelino Arantes como protagonista que reúne a família que o oceano separa, mas que continuamente envolve o diálogo entre o que nomeamos de passado e de presente. Ele era nosso bisavô!


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¹ Braga. Norte de Portugal no Vale do Cavado. Cidade dos Arcebispos, Roma Portuguesa, Cidade Barroca, Cidade Romana e Cidade dos Três Sacros-Montes são referências aos 2000 anos de História como cidade ligada a todo o Minho.